sexta-feira, 4 de março de 2011

LÍBIA, EGITO E TUNÍSIA! SOLIDARIEDADE COM A REVOLUÇÃO! NENHUMA INGERÊNCIA DOS EUA!

Carta da Corrente O Trabalho do Partido dos Trabalhadores • 3 de março de 2011
LÍBIA, EGITO E TUNÍSIA

SOLIDARIEDADE COM A REVOLUÇÃO!

NENHUMA INGERÊNCIA DOS EUA!
Por dois meses, manifestações de massa estão mostrando a força que tem a determinação emancipadora dos povos da Tunísia, do Egito, da Líbia, Iêmen, Bahrein e vários outros.

Eles mostram que a revolução em nossa época é possível. Desestabilizaram completamente a situação no norte da África e Oriente Médio. E já trouxeram um abalo de conjunto na ordem imperialista mundial, encabeçada pelos EUA, sob o fundo da crise capitalista.
SEGUNDA ONDA NA TUNÍSIA
O país que deflagrou a revolta vive agora uma segunda onda.
Após 10 dias de mobilização apoiada nos comitês municipais e regionais de vigilância e proteção da revolução, que reuniram num crescendo 500 mil pessoas na praça central de Tunis, acaba de cair o odiado primeiro-ministro Ganuchi, continuador do governo Ben Ali, do RCD, ao qual serviu.
Reportagem do jornal Informações Operárias, do POI francês, registra a motivação de um jovem na praça, “não podemos ter um governo com traidores dentro”, assim como um professor primário: “precisamos renacionalizar o que as famílias Trabelsi e Bem Ali espoliaram. Há um mês esperamos, mas não mudou nada. Nossa bandeira é clara, uma Assembléia Constituinte”.
Nesse situação, a própria central sindical, UGTT, que chegara a dar certo crédito ao governo de “transição democrática” patrocinado pelo imperialismo, girou. O secretário-geral da UGTT, Hacine El Abassi, pediu a “imediata demissão deste governo, em total contradição com as exigências da revolução. É preciso um governo de salvação pública, e a eleição de uma Assembléia Constituinte Soberana”.
Três horas depois desta posição ser reiterada pela Executiva da UGTT, no dia 27, Ganuchi renunciou, e outros ministros em seguida. No seu lugar, assumiu Essebssi como primeiro-ministro, um velho cacique do tempo de Bourguiba, o fundador do regime do RCD.
Em paralelo, no Egito, ao longo desta semana, também cresceram as mobilizações pela demissão do primeiro-ministro Shafik, que terminou renunciando 4ª feira.
Ao mesmo tempo, no Egito como na Tunísia, os trabalhadores se organizam, sucedem-se greves por reivindicações salariais e pela depuração dos prepostos do antigo regime.
PERIGO NA LÍBIA
Mas a revolução não é nem pode ser linear, tem avanços e recuos.
Na Líbia, por exemplo, onde eclodiu um movimento de massa contra o regime do ditador Kadhafi (v. artigo abaixo), o imperialismo tenta efetivamente explorar a situação e retomar a iniciativa perdida na região.
O acionamento pela ONU do Tribunal Penal Internacional contra Kadhafi é uma farsa, o TPI julga quem os EUA quiserem, com uma cláusula que exclui os próprios EUA de qualquer julgamento (quem se esqueceu do que eles fazem hoje mesmo no Iraque ou Afeganistão?). A suspensão da Líbia do Conselho de Direitos Humanos da ONU é outra hipocrisia das potencias que - no ano passado! – recém admitiram o ditador no CDH.
Mas o fato é que os EUA já puseram a sua 5ª Frota em alerta, e barcos seus e de membros da União Européia já rumam para a Líbia, sob pretextos “humanitários”.
Na realidade, por trás da “preocupação” com a Líbia está o controle de uma fonte de petróleo, e uma intervenção ameaçadora a dois países vizinho, justamente a Tunísia e o Egito.
Ninguém sabe o que acontecerá nos próximos dias.
Há posições de governos da região contrários à intervenção militar, como a Turquia.
Da parte do governo Dilma há a respeito declarações contraditórias de ministros e embaixadores que não ajudam a causa popular e a paz mundial.
Compreende-se que o governo Chávez, ele próprio ameaçado, manobre com iniciativas diplomáticas para evitar uma intervenção que poderia prenunciar outras. Mas nada justifica tratar de “amigo” um Kadhafi privatizador e entreguista, hoje odiado pelo próprio povo, portanto, pelos povos solidários do mundo.
É nesse cenário que, após o Carnaval, vem em visita ao Brasil o presidente Obama nos dias 19 e 10.
De nossa parte, desde já, reafirmamos, como farão outras organizações sindicais e populares, nosso comprometimento com a rejeição de qualquer aventura imperialista, partidários que somos da autodeterminação dos povos.
O que hoje, em nosso continente, implica na defesa da soberania do Haiti com a retirada das tropas da Minustah, comandadas por generais brasileiros.
SOLIDARIEDADE COM A REVOLUÇÃO NA TUNÍSIA E NO EGITO!

NENHUMA INGERÊNCIA DOS EUA NA LÍBIA!

DE ONDE VEM ESSE SÚBITO INTERESSE PELO DESTINO DO POVO LÍBIO?

François Lazar, Informations Ouvrières, 2/3/11
A violência do regime contra o povo da Líbia provocou milhares de mortes, com aviões e tanques atirando contra a multidão. A população quer acabar com o regime ditatorial, a pobreza e a miséria, enquanto os clãs ligados ao poder pilham a riqueza do país, particularmente o petróleo, vendido a baixo preço às companhias estrangeiras.
Dirigentes do governo estadunidense e da União Europeia inquietam-se com o risco de caos. Outros falam do risco de divisão entre leste e oeste (as províncias de Cirenaica e Tripolitana). Navios americanos se deslocam em direção à Líbia. Crescem as ameaças de intervenção militar.
Hillary Clinton em recente declaração no Conselho dos Direitos Humanos da ONU, em Genebra, falando sobre os povos árabes, disse que “nossos valores e interesses convergentes no apoio a essas transições não é apenas um ideal, é um imperativo estratégico”. Ela tem o mérito da clareza ao mostrar que o objetivo de Washington é estabelecer uma base no norte da África para tentar bloquear o desenvolvimento das revoluções na Tunísia e Egito.
Em seu discurso, a secretária de Estado evocou seu desejo de uma ampla abertura política no mundo árabe, excluindo as “influências antidemocráticas”.
A principal influência antidemocrática sendo o imperialismo estadunidense e a União Européia que por décadas apoiaram os regimes ditatoriais, a senhora Clinton não evocou nem o regime fantoche do Iraque, sustentado por 50.000 militares dos EUA e que acaba de atirar contra manifestantes, nem seu aliado israelense que cotidianamente comete os piores abusos contra a população civil palestina em Gaza e na Cisjordânia.
É todo aparelho do Estado líbio que está em vias de romper com o ditador
No mesmo discurso, Clinton indicou que seu governo havia feito contato com grupos da oposição líbia que lutam para derrubar o coronel Kadhafi. A informação foi imediatamente rejeitada pelos grupos em questão, através da TV Al Jazeera, a exemplo do demissionário ministro da Justiça, Mustafa Abduljalil, que acabara de formar um governo interino em Benghazi (cidade controlada pela oposição).
 Domingo, dia 27 de fevereiro, Abdul Salam Mahmoud Al-Hassi, chefe das forças especiais líbias, passa para o lado dos manifestantes. Sucessivamente, à exceção dos membros diretos do clã Kadhafi, todo o aparelho do Estado líbio vai rompendo com o ditador e rejeitando a perspectiva de uma intervenção militar que privaria os senhores de amanhã, revestidos de verniz democrático, de controlar os benefícios do dinheiro do petróleo.
Se a ampla rejeição popular a Kadhafi está ligada a uma profunda aspiração por liberdade e satisfação das necessidades sociais, não podemos, contudo, identificar a situação na Líbia às do Egito e Tunísia.
Como indica o jornal As Safir (25/02), a situação líbia é contraditória: mobilização popular, mas também traços comparáveis a movimentos de guerra civil, clã contra clã, que sacrificaram numerosos países da África negra em benefício das multinacionais.
As respostas assassinas do poder suscitaram, imediatamente, uma desagregação das forças armadas líbias, estruturadas por tribos e não pelo poder central, onde as principais buscam a independência em relação a Trípoli.
O fim do regime de Kadhafi é, efetivamente, transformado muito rapidamente numa guerra civil, onde os mortos se contam aos milhares.
Contrariamente aos seus vizinhos, o regime de Kadhafi era “reconhecido”, não tanto pelos acordos de exploração e pilhagem com o FMI e a União Europeia, ou estratégicos com o Estado de Israel, mas, sobretudo, por garantir a bom preço uma parte não desprezível das necessidades européias de petróleo, em particular da Itália.
A Líbia de Kadhafi é um mercado suculento para os Estados membros da União Européia
Além do fornecimento do petróleo bruto de qualidade superior, são as consideráveis reservas ainda não exploradas que provocaram e provocam cada vez mais os interesses das grandes potências.
Junte-se a essa descrição, uma diferença notável entre a Líbia e seus dois vizinhos: a classe operária na Líbia é, de fato, constituída em sua grande maioria por trabalhadores chineses, egípcios, tunisianos, que na maior parte estão fugindo do país, deixando os postos de petróleo e refinarias em ponto morto.
A Líbia de Kadhafi é um mercado suculento para os Estados membros da União Europeia, em particular os produtores de armas, a começar pela França. Segundo o Diário Oficial da UE (13 de janeiro de 2011), ela exporta por ano para a Líbia cerca de 500 milhões de dólares (cifra de 2009) em equipamentos militar (comparando com a subvenção militar dos EUA ao Egito de 1, 3 bilhão de dólares, é quatro vezes maior que para a Líbia, mas para um número de habitantes 12 vezes menor).
No momento em que escrevemos, o movimento de tropas com a cobertura da ONU se dirige para a Líbia.
Com a queda do regime de Kadhafi o imperialismo estadunidense se prepara para instalar na Líbia suas próprias multinacionais, que estavam praticamente ausentes, e gerir, sem intermediários, a extração do petróleo e a partilha dos dividendos.
É um dos desafios maiores do período que se abre para o povo líbio e para os povos da região

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